Ônibus derruba muro no Brás e mata três pessoas em estacionamento de veículos pesados

Três pessoas morreram na manhã deste sábado, 8 de novembro de 2025, quando um ônibus perdeu o controle em um estacionamento particular no Brás, Centro de São Paulo, e derrubou um muro de alvenaria que dava para a Rua Vieira Martins. O impacto foi tão violento que parte da estrutura desabou sobre transeuntes — entre eles, dois homens e uma mulher, todos na faixa dos 35 a 40 anos. Um deles morreu no local; outro, também homem, foi levado em estado grave à Santa Casa, mas não resistiu. A mulher, que estava caminhando ao lado da via, foi soterrada pelos escombros e morreu antes da chegada da ambulância. A cena, captada por câmeras de segurança e por moradores, mostrou o muro desmoronando como um castelo de cartas. O acidente ocorreu por volta das 6h20, mas os corpos só foram retirados após as 10h, quando os bombeiros concluíram os trabalhos de resgate.

Um estacionamento que não deveria ser usado assim

O local do acidente, número 100 da Rua Vieira Martins, é um estacionamento exclusivo para veículos pesados — caminhões, carretas e ônibus — ligado diretamente à estação Bresser/Mooca, da Linha 3-Vermelha do Metrô de São Paulo. Mas, segundo moradores da região, esse espaço é frequentemente usado como ponto de parada informal por motoristas de ônibus de linhas urbanas, que aproveitam a proximidade da estação para fazer pausas rápidas. "É um buraco que ninguém fiscaliza", disse Maria do Carmo, 58, que vende frutas na esquina há 22 anos. "Todo dia tem ônibus entrando e saindo como se fosse um pátio de ônibus. E aqui é perto de escola, de mercadinho, de idosos que vão ao posto de saúde. É uma bomba-relógio."

A manobra que ninguém viu vir

Segundo o Corpo de Bombeiros de São Paulo, o motorista do ônibus tentava fazer uma manobra de recuo para estacionar em uma vaga estreita, mas perdeu o controle do veículo. O veículo, cuja empresa proprietária ainda não foi identificada, teria colidido com o muro de sustentação lateral do estacionamento — uma estrutura de alvenaria de cerca de 3 metros de altura e 15 metros de comprimento, construída na década de 1980 e nunca reforçada. O muro, que dividia o estacionamento da calçada pública, desabou em menos de três segundos. "Foi um estouro. Não teve tempo de gritar", contou o entregador Rafael Silva, 31, que estava a 10 metros do local e viu tudo. "Só vi poeira, tijolo e pernas. Depois, silêncio." As imagens da TV Globo mostram o ônibus, de cor branca e sem identificação clara da empresa, balançando violentamente antes do impacto. O muro, que não tinha reforço estrutural, cedeu como papelão. Os escombros atingiram uma banca de jornal, uma motocicleta estacionada e dois pedestres que passavam no momento exato. O 32º Distrito Policial, responsável pela investigação de acidentes na região central, já iniciou a perícia e pediu os registros de câmeras de segurança de lojas vizinhas.

Quem são as vítimas?

As identidades das vítimas ainda não foram divulgadas oficialmente, mas fontes próximas ao Instituto Médico Legal (IML) confirmaram que duas das vítimas são moradoras da região. O homem de 40 anos, que morreu no local, trabalhava como auxiliar de manutenção em um prédio comercial próximo. A mulher, também de 40 anos, era vendedora ambulante de roupas usadas e costumava passar pelo local todos os dias, às 6h30, para pegar o metrô. O terceiro homem, de 35 anos, era funcionário de uma empresa de logística e estava em uma pausa para café quando foi atingido. "Eles não eram ninguém. Só pessoas que estavam no lugar errado, na hora errada", disse um policial que trabalhou no local.

As falhas que ninguém corrigiu

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo (DER-SP) foram acionados imediatamente. Ambos confirmaram que o estacionamento particular não tinha licença para operar como ponto de manobra de veículos pesados. "O espaço era irregular, sem sinalização, sem barreiras de segurança, sem monitoramento. Isso aqui era um risco esperado", afirmou o engenheiro Carlos Henrique, ex-técnico da CET, em entrevista à Jovem Pan. "Já tínhamos feito relatórios em 2022 sobre esse ponto. Ninguém agiu." O Corpo de Bombeiros também revelou que o muro não estava em conformidade com a norma NBR 6118, que exige reforço estrutural em muros que separam áreas de circulação pública de zonas de manobra de veículos. "Isso aqui não era um muro. Era uma parede de tijolo sem armadura, sem fundação adequada. Qualquer impacto, mesmo leve, poderia derrubá-lo."

O que vem agora?

A prefeitura de São Paulo anunciou que fará uma vistoria emergencial em todos os estacionamentos irregulares próximos a estações de metrô e trens na região central. Ainda não há prazo para a conclusão. O Ministério Público do Estado de São Paulo já abriu um inquérito civil para apurar possíveis omissões por parte da CET e da prefeitura. Enquanto isso, a família das vítimas aguarda a liberação dos corpos. O funeral da mulher será realizado na segunda-feira, no Cemitério do Araçá. Os dois homens ainda não têm família localizada.

Como isso pode acontecer de novo?

O acidente no Brás não é isolado. Em 2021, um caminhão derrubou um muro em Vila Mariana, matando uma criança de 8 anos. Em 2023, outro incidente semelhante ocorreu em Santo Amaro, com um ônibus da linha 251. Em ambos os casos, as investigações apontaram falhas na manutenção de infraestrutura e ausência de fiscalização. "Não é acidente. É negligência repetida", diz o professor de engenharia urbana da USP, Dr. Luiz Fernando. "A cidade cresce, mas as regras não. E os mais vulneráveis pagam o preço."

Frequently Asked Questions

Como o ônibus conseguiu entrar em um estacionamento que não era autorizado?

O estacionamento era irregular e não tinha barreiras físicas nem sinalização. Motoristas de ônibus urbanos usavam o local como ponto de parada informal, aproveitando a proximidade da estação Bresser/Mooca. A CET e a prefeitura já haviam identificado a irregularidade em relatórios de 2022, mas nenhuma ação de fiscalização foi tomada até o acidente.

Por que o muro caiu tão facilmente?

O muro era de alvenaria sem armadura de aço, sem fundação profunda e sem reforço conforme a norma NBR 6118. Construído na década de 1980, nunca foi inspecionado ou reforçado. Técnicos do Corpo de Bombeiros confirmaram que qualquer impacto acima de 10 km/h poderia derrubá-lo — e o ônibus estava a cerca de 25 km/h na manobra.

Quem será responsabilizado pelo acidente?

A investigação está sob responsabilidade do 32º Distrito Policial. O motorista do ônibus foi identificado, mas sua empresa ainda não foi revelada. O Ministério Público também investiga a prefeitura e a CET por omissão, já que relatórios anteriores já alertavam para o risco desse ponto. Pode haver responsabilização criminal e civil contra a empresa do veículo e os órgãos públicos.

O que foi feito para evitar novos acidentes?

A prefeitura anunciou vistorias emergenciais em todos os estacionamentos irregulares próximos a estações de metrô. A CET já interditou cinco pontos semelhantes na região central. Mas não há cronograma de reestruturação. A única ação imediata foi a interdição da Rua Vieira Martins e a remoção dos escombros — o que foi feito em menos de 24 horas, mas sem mudar as causas profundas do problema.

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