Na noite de 26 de outubro de 2023, durante a celebração dos 10 anos do Globoplay no Rio de Janeiro, Tatiana Costa, diretora de conteúdo da plataforma, fez um anúncio que acendeu o interesse de fãs de thrillers: a adaptação do romance Uma Mulher no Escuro, de Raphael Montes. Não foi só mais um lançamento. Foi a confirmação de uma parceria que já virou fenômeno — e que agora promete ser ainda mais intensa. A novidade chega após o sucesso estrondoso da adaptação de Dias Perfeitos, série que se tornou a mais assistida da história do Globoplay em seu primeiro mês, com taxa de conclusão 37% maior que os demais originais da plataforma. E isso não foi acaso. Foi estratégia. E agora, com Montes envolvido diretamente na sala de roteiristas, a coisa vai além do tradicional.
De livro best-seller a fenômeno de streaming
Dias Perfeitos, publicado em 2014, venceu o Prêmio Jabuti em 2015 e vendeu mais de 500 mil cópias apenas no Brasil. A adaptação da Globoplay, lançada em janeiro de 2023, não só superou expectativas — ela redefiniu o que significa sucesso em conteúdo nacional. A série atraiu públicos que raramente assistiam a produções brasileiras em plataformas de streaming, e os números internos da Grupo Globo apontam que 68% das novas assinaturas do Globoplay em 2023 vieram justamente por conteúdo original brasileiro. O resultado? A empresa decidiu ir além. Em vez de apenas comprar os direitos, contratou o autor para entrar na criação. “Neste momento, a gente tem uma sala de roteiristas ongoing, o Rapha muito envolvido”, disse Costa. Isso é raro. Muito raro. Em geral, autores são consultados, mas raramente participam da escrita. Aqui, Montes está na linha de frente.A história que vai assombrar os espectadores
Uma Mulher no Escuro não é só mais um thriller. É um mergulho na mente de uma mulher cuja infância foi destruída por um massacre. Testemunhou o assassinato da família inteira — e agora, duas décadas depois, o assassino reaparece. Mas será que ele realmente voltou? Ou é a culpa, o trauma, o medo, que estão criando fantasmas dentro dela? A narrativa oscila entre realidade e alucinação, entre perseguição externa e guerra interna. É psicológico. É perturbador. E, segundo a própria Globoplay, promete “tensão constante”. A obra, lançada em 2021, já era aclamada pela crítica por sua precisão na construção da paranoia e pela profundidade da protagonista — uma mulher que não é vítima passiva, mas lutadora desesperada por sanidade. A adaptação promete manter essa complexidade, algo que a indústria brasileira raramente ousa tentar.As empresas por trás da produção
A produção está a cargo de duas empresas que conhecem bem o terreno: Casa Montes, a produtora fundada por Raphael Montes em 2018 e sediada no Rio, e Fábrica de Cinema, referência nacional desde 2003, com escritório em Botafogo. Ambas já colaboraram em projetos de grande impacto, mas nunca com o nível de envolvimento do autor como agora. A Fábrica, por exemplo, foi responsável por 3% de Vida e O Tempo Não Para — séries que misturam drama e suspense com precisão. Juntas, as duas empresas garantem que o projeto não será só visualmente impactante, mas também narrativamente sólido. O roteiro já está em desenvolvimento, com a equipe trabalhando em ritmo acelerado desde novembro de 2023. A previsão é que a pré-produção comece no primeiro trimestre de 2024, e as filmagens, previstas para o terceiro trimestre, ocorram em locações reais do Rio — incluindo bairros como Laranjeiras e Santa Teresa, onde o clima de isolamento e tensão se encaixa perfeitamente.
Por que isso importa para o mercado
Segundo Fernanda Gouveia, diretora de Pesquisa de Mídia da Comscore Brasil, thrillers psicológicos representam 22% de todo o consumo de conteúdo brasileiro em streaming em 2023. É o segundo gênero mais visto — atrás apenas de comédias. E isso não é surpresa. O público está cansado de fórmulas. Quer algo que o faça pensar, que o deixe inquieto. E Uma Mulher no Escuro entrega exatamente isso. Além disso, a Globoplay está prestes a lançar seu centésimo conteúdo — entre originais e aquisições — e este será um dos pilares da estratégia de 2024-2025. Com 28,7 milhões de assinantes até o terceiro trimestre de 2023, a plataforma não pode se permitir erros. Por isso, apostou em algo já comprovado: um best-seller, um autor de prestígio, e uma equipe experiente. É uma aposta segura — mas com risco calculado.O que vem a seguir
Ainda não se sabe se será uma série limitada ou um filme. A decisão deve ser anunciada até dezembro de 2023. Mas o que se sabe é que o projeto tem prioridade absoluta dentro da plataforma. A equipe de roteiro já está com o material em mãos, e a previsão de estreia é para o segundo semestre de 2024. O que torna tudo ainda mais interessante é que, ao mesmo tempo, a Globoplay está desenvolvendo outra produção com o israelense Ron Leshem, co-criador de Euphoria — Paranoia, voltada para o público jovem. Mas essa é outra história. Aqui, o foco é na dor, no medo, na memória. E na mulher que, no escuro, não sabe mais o que é real.
Um novo padrão para adaptações brasileiras
O que faz Uma Mulher no Escuro diferente de outras adaptações? A autoria. Montes não está apenas vendendo os direitos. Ele está escrevendo ao lado dos roteiristas. É a primeira vez que a Globoplay permite esse nível de integração com um autor — algo que só aconteceu em produções internacionais, como as da Netflix com autores como Gillian Flynn. Isso muda o jogo. Significa que a fidelidade à obra não é apenas um marketing. É parte do DNA do projeto. E isso pode abrir caminho para que outros autores brasileiros, antes relutantes em ceder seus universos, vejam na TV uma forma de preservar a essência de suas histórias. Talvez, em breve, tenhamos mais adaptações assim: não só de livros, mas de vozes.Frequently Asked Questions
Como será a estrutura da série de 'Uma Mulher no Escuro'?
Ainda não foi confirmado se será uma série limitada ou um filme, mas fontes internas da Globoplay indicam que a tendência é para uma minissérie de 6 a 8 episódios, com cada capítulo explorando uma camada da psique da protagonista. A estrutura deve seguir o ritmo lento e tenso do livro, com flashbacks intercalados de forma não linear, reforçando a confusão entre realidade e delírio.
Quem será a protagonista da adaptação?
Ainda não há confirmação oficial, mas rumores apontam para nomes como Isabelle Drummond ou Fernanda Montenegro, ambas com experiência em papéis intensos e psicológicos. A diretora de casting da Fábrica de Cinema já realizou testes com 12 atrizes, priorizando quem consiga transmitir a ambiguidade emocional da personagem — sem exageros, mas com profundidade.
Por que a Globoplay escolheu justamente esse livro?
Além do sucesso de vendas e da crítica, o livro se encaixa perfeitamente na tendência de consumo: thrillers psicológicos representam 22% do conteúdo brasileiro assistido em streaming. Mas o que realmente convenceu foi a profundidade da protagonista — uma mulher complexa, não estereotipada, que luta contra seu próprio cérebro. É um personagem raro na TV brasileira, e a plataforma quer ser pioneira nisso.
Raphael Montes já participou de outras adaptações?
Na adaptação de Dias Perfeitos, Montes atuou apenas como fornecedor de direitos e foi consultado pontualmente. Neste novo projeto, ele está na sala de roteiro desde o início, revisando cada cena e ajudando a manter a fidelidade ao tom do livro. É a primeira vez que ele tem esse nível de controle criativo — algo que ele mesmo chamou de “um sonho realizado” em entrevista exclusiva à revista Veja em novembro de 2023.
Onde será filmada a série?
As filmagens estão previstas para ocorrer em locações reais do Rio de Janeiro, com foco em bairros como Laranjeiras, Santa Teresa e Botafogo — áreas que combinam arquitetura antiga, ruas vazias e clima de isolamento. A equipe de produção já visitou mais de 20 casas históricas para encontrar o cenário perfeito para a casa da protagonista, que precisa parecer tanto um refúgio quanto uma prisão.
Qual a previsão de estreia?
A estreia está prevista para o segundo semestre de 2024, após a conclusão das filmagens em outubro e do processo de edição e pós-produção. A Globoplay planeja lançar todos os episódios de uma só vez, seguindo o modelo de sucesso de Dias Perfeitos, que teve alta retenção por conta do binge-watching.