Entre 6 e 14 de outubro de 2025, o futebol sul-americano parou — não por uma final, mas por uma janela internacional que revelou o quanto o Brasileirão virou fonte indispensável de talentos para seleções de todo o mundo. Palmeiras Futebol Clube saiu na frente: seis jogadores convocados, mais que qualquer outro clube da Série A. Mas o que mais chamou atenção não foi a quantidade, e sim o destino: jogos na Ásia, derrotas inesperadas e uma Seleção Brasileira em reconstrução, com dois jogadores apenas do campeonato nacional na lista. Ainda que o técnico Carlo Ancelotti tenha escolhido apenas Hugo Souza (Corinthians) e Fabrício Bruno (Cruzeiro), o impacto foi profundo — e nem sempre positivo.
Palmeiras: o clube que alimenta a América do Sul
Se o Palmeiras fosse uma seleção, estaria entre as top 10 do mundo. Seis jogadores convocados — todos estrangeiros — mostram o quão globalizado o time paulista se tornou. Gustavo Gómez e Ramón Sosa, do Paraguai; Aníbal Moreno e Flaco López, da Argentina; e os uruguaios Emiliano Martínez e Facundo Torres. Nenhum deles nasceu no Brasil, mas todos jogam aqui. E isso não é acaso. O Palmeiras se tornou um polo de atração para jogadores da América do Sul que buscam visibilidade, salários estáveis e, acima de tudo, uma porta de entrada para seleções de alto nível. O clube, que já foi símbolo de identidade nacional, hoje é um verdadeiro laboratório de nacionalidades.
Paraguai e Uruguai: as seleções que miram o Brasileirão
O Paraguai foi a seleção que mais pescou no Brasileirão: sete jogadores. Entre eles, Júnior Alonso (Atlético-MG), Alexis Duarte (Santos), Alan Benítez (Inter) e Damián Bobadilla (São Paulo). O técnico Ernesto Vargas claramente está apostando na experiência local. Já o Uruguai, comandado por Marcelo Bielsa, chamou quatro: Puma Rodríguez (Vasco), Emiliano Martínez (Palmeiras), Facundo Torres (Palmeiras) e Nacho Laquintana (Bragantino). A surpresa foi o fato de Puma Rodríguez ter sido convocado pelo quarto mês consecutivo — junho, setembro, outubro e novembro de 2025 — algo raro para um lateral que atua no Brasil. O Uruguai, que já é conhecido por sua disciplina tática, agora parece estar construindo um time com base em jogadores que conhecem o ritmo intenso da Série A.
Brasil: dois jogadores, dois erros, uma pergunta
Carlo Ancelotti fez uma escolha ousada — e controversa. Ao convocar apenas dois jogadores do Brasileirão, deixou de fora nomes como Gabriel Martinelli (Arsenal, mas nascido no Brasil), Endrick (Real Madrid) e Rodrygo (Real Madrid). Mas ele não estava chamando jogadores da Europa. Ele estava chamando quem estava aqui. Hugo Souza, goleiro do Corinthians, teve sua primeira chance como titular contra o Japão — e falhou. No terceiro gol japonês, ele errou uma saída de bola que resultou em uma chance fácil. Fabrício Bruno, do Cruzeiro, esteve envolvido em dois dos gols sofridos. A derrota por 3 a 2, após vencer por 5 a 0 contra a Coreia do Sul, deixou um gosto amargo. Não foi só o resultado. Foi o que ele representou: uma seleção que ainda não encontrou sua identidade. E que, ao invés de se apoiar na base local, parece estar em busca de algo que ainda não existe.
Amistosos na Ásia: uma estratégia inédita
Os jogos contra Coreia do Sul e Japão não foram apenas amistosos. Foram uma declaração. A CBF e o técnico Ancelotti decidiram enfrentar seleções asiáticas em seus próprios territórios — Seul e Tóquio — algo raro para a Seleção Brasileira. A ideia? Preparar o time para o estilo de jogo rápido, pressão alta e organização tática que se vê na Copa do Mundo. Mas o custo foi alto: 12 horas de fuso, viagens longas, jogadores sem preparação adequada. O coordenador executivo da CBF, Rodrigo Caetano, confirmou que a próxima janela, em novembro, será na Europa — Londres e Paris — contra seleções africanas ainda não definidas. É um movimento estratégico: a Europa é o palco da elite, mas a Ásia é o futuro. O Brasil está tentando estar em ambos.
O que vem a seguir? A Copa do Mundo de 2026 e o futuro do Brasileirão
A Copa do Mundo de 2026, sediada nos Estados Unidos, México e Canadá, será a primeira com 48 equipes. Isso muda tudo. As seleções menores têm mais chances — e os jogadores do Brasileirão, mesmo que não sejam estrelas globais, podem ser peças-chave. O Palmeiras já é um fornecedor de talentos. O Corinthians e o Vasco também. Mas o que falta é um projeto nacional de desenvolvimento. O futebol brasileiro ainda vive da tradição, não da estratégia. E enquanto a Europa e a Ásia investem em análise de dados, psicologia esportiva e preparação logística, o Brasil ainda se agarra a nomes e emoções.
Convocações por clube e seleção: o mapa da nova América
- Palmeiras: 6 jogadores (Paraguai x2, Argentina x2, Uruguai x2)
- Paraguai: 7 jogadores do Brasileirão (Palmeiras x2, Atlético-MG, Santos, Inter, São Paulo, Corinthians)
- Uruguai: 4 jogadores (Vasco, Palmeiras x2, Bragantino)
- Brasil: 2 jogadores (Corinthians, Cruzeiro)
- Corinthians: 3 convocados (Brasil, Paraguai, Holanda)
- Vasco: 2 convocados (Uruguai, Brasil)
Frequently Asked Questions
Por que o Palmeiras tem tantos jogadores convocados, mas nenhum brasileiro na Seleção?
O Palmeiras tem um modelo de contratação focado em jogadores sul-americanos de alto nível que ainda não estão na Europa. Esses atletas, como Gómez e Torres, têm experiência internacional e são visados por seleções que buscam qualidade técnica. Já a Seleção Brasileira, sob Ancelotti, prioriza jogadores que atuam na Europa — mesmo que eles não sejam do Brasileirão. Isso reflete uma desconexão entre o que o clube oferece e o que a seleção considera relevante.
Por que a CBF escolheu jogar na Ásia em vez da Europa?
A CBF quer preparar a Seleção para os desafios da Copa do Mundo de 2026, onde enfrentará adversários com ritmo acelerado e organização tática, como Japão e Coreia do Sul. Jogar na Ásia também aumenta a exposição global do futebol brasileiro. É uma aposta estratégica, embora arriscada, já que o desgaste logístico e o fuso horário podem afetar o desempenho dos jogadores.
Hugo Souza e Fabrício Bruno foram os únicos convocados do Brasileirão. Isso é justo?
Não, não foi justo. Muitos jogadores do Brasileirão, como Pedro (São Paulo), Lucas Paquetá (Lyon) e Gabriel Veron (Benfica), têm desempenho superior. A escolha de Ancelotti parece baseada em conveniência, não em desempenho. O fato de Souza ter sido titular contra o Japão, após apenas uma boa partida, mostra uma falta de consistência na avaliação.
O que a derrota para o Japão revela sobre a Seleção Brasileira?
Revela que o time ainda não tem identidade. A vitória por 5 a 0 contra a Coreia do Sul foi um espetáculo, mas a derrota por 3 a 2 contra o Japão mostrou fragilidade defensiva e falta de coesão. O Brasil ainda depende de individualidades, não de um sistema. E sem jogadores de referência no meio-campo, o time fica vulnerável. A convocação de apenas dois jogadores do Brasileirão não é o problema — o problema é não ter um plano claro para construir uma equipe.
Como o Brasileirão pode se beneficiar com tantas convocações?
O campeonato pode ganhar prestígio global, atraindo mais investimentos e talentos. Mas só se houver um projeto de formação. Hoje, os jogadores são usados como mercadorias — vendidos para a Europa ou convocados por seleções estrangeiras. O ideal seria criar uma parceria entre clubes e a CBF para desenvolver um programa de preparação para jogadores convocados, garantindo que eles retornem ao Brasil em melhores condições — física, técnica e mentalmente.
Qual é o próximo passo da Seleção Brasileira?
Em novembro de 2025, a equipe enfrentará duas seleções africanas em Londres e Paris. Esses jogos serão cruciais para definir a identidade da equipe antes da Copa do Mundo. Ancelotti precisa encontrar um meio-termo entre a tradição brasileira e a modernidade europeia. Se continuar ignorando o Brasileirão como fonte de talentos, corre o risco de perder a alma do futebol que o mundo admira.