IPCA de setembro supera expectativa; Powell fala, mercado reage

Quando Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na manhã de 9 de outubro de 2025, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, o Brasil sentiu o chão tremer. A leitura de inflação subiu 0,48% em relação ao mês anterior, ligeiramente abaixo da projeção de 0,52% dos analistas, mas o suficiente para virar a maré de deflação que marcava agosto.

O dado saiu pouco antes do discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em Nova‑York, e logo o Ibovespa reagiu com alta de 0,56%, fechando em 142.145,38 pontos. Enquanto isso, o real permanecia estável próximo a R$ 5,34 por dólar, refletindo a expectativa de que a política monetária americana continue influenciando os fluxos de capital para mercados emergentes.

Contexto histórico da inflação no Brasil

Desde a retomada da meta de inflação em 2021, o país tem navegado entre pressões internas e choques externos. Em agosto de 2025, o IPCA registrou -0,11%, a primeira queda mensal desde agosto de 2024 e a maior deflação desde setembro de 2022. Essa reversão foi impulsionada principalmente pela queda de 4,21% nos preços da energia elétrica residencial, que descreveu um recuo de 0,17 ponto percentual no índice.

Entretanto, a trajetória não foi linear. O acumulado de 12 meses no fim de setembro ficou em 5,17%, acima da meta de 3,0% do Banco Central do Brasil, mas ainda dentro da banda tolerável de 2,5% a 5,5%.

Detalhes da divulgação do IPCA de setembro de 2025

Durante a divulgação do IPCA de setembroBrasília, o diretor‑geral de pesquisas do IBGE, Carlos Augusto da Silva, comentou: “O aumento de 0,48% reflete o repique nos custos de energia, que voltou a subir após a queda de agosto.”

Os números revelam que a energia elétrica foi responsável por 0,23 ponto percentual da alta, revertendo o efeito deflacionário que havia contribuído com -0,17 ponto percentual no mês anterior. Nos demais componentes, alimentos e bebidas apresentaram leve aumento de 0,09 ponto, enquanto habitação – excluindo energia – registrou variação quase nula.

Os analistas da Capital Economics já haviam sinalizado que a pressão sobre a conta de energia poderia ser um dos fatores que impediria uma queda mais acentuada da inflação nos próximos meses.

Reação do mercado e da moeda

Na véspera da divulgação, o Ibovespa já apresentava tendência de alta, impulsionado por expectativas de que o Banco Central mantivesse a taxa Selic em 15,00% ao ano – patamar fixado desde a última reunião de julho.

Com o dado em mãos, os investidores observaram que, embora a inflação estivesse acima da meta, o desvio em relação ao consenso era pequeno. O resultado “um pouco mais suave que o esperado” trouxe otimismo moderado, refletido no avanço de 0,56% citado anteriormente.

O real, por sua vez, agarrou a faixa de R$ 5,34 ao dólar, reforçando a ideia de que a moeda está cotada mais que estabilizada, aguardando as palavras de Jerome Powell para ajustar as expectativas de fluxo de capitais.

Posicionamento do Banco Central e previsões de política monetária

Posicionamento do Banco Central e previsões de política monetária

O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, reafirmou que a taxa Selic permanecerá em 15,00% até que a inflação encare o centro da meta por um período mais prolongado. Em entrevista à TV Brasil, Campos Neto disse: “Mantemos a taxa onde está por ora, mas estamos atentos ao desdobramento da energia e aos choques externos.”

Segundo o relatório “Latin America Rapid Response” publicado em agosto de 2025 pela Capital Economics, a tendência é que o Comitê de Política Monetária (Copom) comece a suavizar a política ao final de 2025 e, possivelmente, ofereça cortes mais profundos que o mercado espera no início de 2026.

Os economistas da FXStreet apontam que a divergência entre a projeção de 0,52% e o resultado real de 0,48% pode ser visto como sinal de que a inflação ainda tem espaço para desacelerar, mas que o ritmo dependerá de como evoluirão os preços da energia.

Impacto da fala de Jerome Powell nos mercados emergentes

O discurso de Jerome Powell abordou, entre outros pontos, a possibilidade de manter a taxa dos fundos federais em patamar elevado por mais tempo, visando combater pressões inflacionárias nos EUA. "Um ambiente de juros mais altos nos EUA pode atrair fluxos de capital de volta ao dólar, pressionando moedas de mercados emergentes", alertou o economista-chefe da European Bank em Nova‑York.

Para o real, isso significa que, mesmo com a inflação brasileira dentro da tolerância, a moeda pode sofrer pressão caso o Fed sinalize mais endurecimento. No entanto, a estabilidade observada até o fechamento do Ibovespa sugere que o mercado ainda está avaliando o cenário brasileiro como relativamente resiliente.

Em síntese, o IPCA de setembro mostrou que a inflação brasileira continua acima da meta, mas a pequena diferença em relação à expectativa e o suporte do Banco Central dão margem a otimismo cauteloso. O próximo passo será observar a sequência de reuniões do Copom e o desenrolar dos discursos de Powell nas próximas semanas.

Perguntas Frequentes

Como a alta da energia elétrica afetou a inflação de setembro?

A energia elétrica subiu cerca de 2,9% em termos anuais, acrescentando 0,23 ponto percentual ao IPCA. Esse repique anulou a queda de 0,17 ponto registrado em agosto, sendo o principal motor da alta mensal.

Qual é a expectativa para a taxa Selic nos próximos meses?

Roberto Campos Neto indicou que a Selic deve permanecer em 15,00% até que a inflação esteja consistentemente próxima ao centro da meta. Analistas da Capital Economics preveem cortes a partir do final de 2025, possivelmente acelerando em 2026.

De que forma o discurso de Jerome Powell pode impactar o real?

Se Powell sinalizar manutenção de juros altos nos EUA, o dólar tende a se valorizar, pressionando moedas como o real. Contudo, a reação imediata foi mitigada pela confiança no posicionamento do Banco Central brasileiro.

O que a faixa de tolerância da meta de inflação significa para a política monetária?

A meta de 3,0% tem margem de 2,5% a 5,5%. Enquanto a inflação anual ficar dentro desse intervalo, o Banco Central pode manter a taxa de juros estável, evitando cortes prematuros que poderiam desancorar a inflação.

1 Comentários

  • Maria das Graças Athayde

    Maria das Graças Athayde

    outubro 10, 2025

    🥺 Foi realmente assustador ver o IPCA subir novamente, ainda que a alta tenha sido menor que a expectativa. A energia elétrica voltou ao destaque, puxando a inflação para cima. Isso deixa a gente preocupado com o custo de vida das famílias, principalmente no Nordeste onde a conta de luz pesa mais. Mas ainda há esperança se o Banco Central mantiver a postura firme. 🙏

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