A Pobreza em Números
O governo argentino, sob a liderança de Javier Milei, sustenta que está corrigindo os erros de gestões passadas que levaram à atual crise de pobreza no país. Conforme dados recentes, a pobreza aumentou acentuadamente, passando de 41,7% no segundo semestre de 2023 para 52,9% no primeiro semestre de 2024. A administração de Milei atribui essa disparada às medidas drásticas adotadas para controlar a inflação, que, sem tais ações, poderia ter crescido de forma descontrolada.
Com uma taxa de inflação que chegou a assustadores 237%, a economia argentina encontra-se em um estado delicado. O aumento nos preços de bens de consumo e o gap crescente entre salários e o custo de vida têm profundado ainda mais o cenário de dificuldade. O crescimento anual dos preços ao consumidor atingiu um ápice de 289% em abril, embora tenha sido reduzido nos meses subsequentes. Ainda assim, essa taxa continua extremamente elevada em comparação com a previsão de Milei de reduzir a inflação para 18% até dezembro de 2025.
Medidas e Suas Consequências
As ações tomadas pelo governo nos primeiros meses do ano incluíram a retirada de controles de preços, a desvalorização acentuada da moeda e a permissão para que os preços aumentassem mais rapidamente do que pensões e salários públicos. Essas medidas, embora necessárias para a estabilização a longo prazo, tiveram um impacto imediato devastador sobre a população, especialmente os mais pobres. Como resultado, o índice mensal de inflação, que chegou a quase 26% em dezembro, caiu para cerca de 4%.
O país está passando pela sua sexta recessão em uma década, uma situação que, apesar das dificuldades atuais, apresenta alguns sinais incipientes de recuperação. O crescimento dos salários tem superado a inflação por três meses consecutivos, e houve ganhos recentes no consumo e na manufatura. Em julho, a atividade econômica cresceu 1,7% em relação ao mês anterior, impulsionada pelo crescimento nos setores de agricultura e mineração.
Desafios Futuros
No entanto, a política de austeridade de Milei enfrenta oposição significativa, o que ameaça a estabilidade dos superávits orçamentários que têm sido essenciais para a contenção da inflação. Neste mês, Milei vetou um projeto de lei que aumentaria significativamente os gastos com pensões, o que desencadeou protestos violentos em frente ao Congresso. Universidades públicas também ameaçam intensificar os protestos e realizar uma greve de 24 horas em resposta ao veto prometido por Milei ao aumento de seu orçamento.
A administração de Milei tem concentrado seus esforços em aumentar o financiamento para programas essenciais de assistência à infância e ajuda alimentar, de acordo com o porta-voz presidencial Manuel Adorni. No entanto, a evidência de dificuldades crescentes está por toda parte. É comum ver pessoas pedindo esmolas do lado de fora de supermercados, vasculhando lixo e batendo à porta das casas em busca de roupas usadas em Buenos Aires.
Impacto Social e Económico
As medidas de austeridade implementadas pelo governo, embora necessárias para conter a hiperinflação, têm gerado um impacto desproporcionalmente severo sobre as camadas mais vulneráveis da população. A ausência de uma rede de proteção social adequadamente robusta faz com que muitas famílias lutem para satisfazer as necessidades básicas.
Por outro lado, o crescimento econômico incipiente e os primeiros sinais de estabilização têm gerado algum alívio, mas esses benefícios ainda não são sentidos de forma ampla. A desigualdade social e a percepção de injustiças econômicas permanecem uma fonte de tensão constante no país.
Enquanto a administração Milei continua implementando suas estratégias de recuperação econômica, o sucesso a longo prazo dessas políticas depende de um delicado equilíbrio entre austeridade e proteção social. As consequências políticas das medidas econômicas adotadas também desempenharão um papel crucial na manutenção da estabilidade e na construção de uma Argentina mais resiliente e próspera.
